“(…)
Quero viver bem, desejo que você se
orgulhe de mim. Se tudo o que nos é permitido são horas, minutos,
quero ser capaz de gravar cada um deles na memória com perfeita
clareza para poder recordá-los em momentos como este, quando minha
alma está sombria.
Goste
dele, se precisar, meu amor, mas não o ame. Por favor não o ame.
Egoisticamente
seu,
B.
“
Escrito
pela britânica Jojo Moyes em 2010, mas
somente publicado no Brasil em 2012,
A Última Carta de Amor conta duas histórias, que aparentemente não
tem nada em comum, mas que ao fim, acabam se interligando. A primeira
história se passa em 1960, Jennifer
Stirling após um acidente de
carro não consegue se lembrar de nada. Ao retornar para casa, ela
tenta recuperar sua memória, ao mesmo tempo que percebe que algo não
vai bem em sua vida conjugal. É nesse momento que encontra uma série
de cartas de amor, endereçadas a ela e assinadas por alguém que se
denomina apenas “B”, nota então que estava vivendo um romance
fora de seu casamento e que estava disposta a largar toda a sua vida
para continuar esse amor. Quarenta anos depois, Ellie
Haworth, jornalista, ao
procurar matérias para escrever em seu jornal, acha as cartas de
amor enviadas de “B” para Jennifer e acaba por se envolver
emocionalmente com as cartas, de modo que passa a procurar os
protagonistas dessas declarações.
Esse
foi o primeiro livro publicado pela Editora Intrínseca no Brasil da
escritora, depois precedido por “Como eu era antes de você (2013)
” e “A garota que você deixou para trás (2014)”, e agora o
mais recente “Um mais um (2015)”.
Ao
alternar as duas narrativas, em momentos históricos diferentes,
passamos a acompanhar duas fortes – ainda que de maneiras
diferentes - personagens femininas. Porém, a autora faz questão de
deixar claro que não é só porque as duas personagens, Jennifer e
Ellie, são protagonistas e heroínas da história, que não cometem
erros e estão, como todas as pessoas reais, sujeitas a imperfeições
e falhas de julgamento. Jennifer comete adultério durante o seu
casamento e Ellie se relaciona com um homem casado, entretanto, em
nenhum momento a autora tenta julgá-las e impor um senso de moral,
tentando convencer o leitor de que as atitudes tomadas por elas
estivessem erradas. Assim, nas mãos de um autor um pouco menos
competente, os personagens do livro poderiam se tornar facilmente
caricatos. Mas Jojo Moyes tem a competência suficiente para
transformá-los em personagens fortes e complexos.
E
é justamente esse um dos grandes pontos fortes do livro: Seus
personagens. Criamos rapidamente uma sensação de identidade com
eles, e uma forte empatia: Não são completamente vilões, e
tampouco completamente heróis. Todos são suscetíveis de erro e a
história faz bem ao evidenciar seus defeitos e qualidades.
Entretanto,
o livro comete alguns erros. O principal deles me incomodou até o
final: a ausência de datas. Ora, a história pode ser dividida em
até três momentos diferentes, porém, essa passagem de tempo é
feita no livro de modo quase instantâneo, sem dar qualquer aviso ao
leitor. De repente, muda-se o período, e o leitor sequer consegue
compreender se a linha temporal mudou de dia, ano ou década. Somente
após ler quase metade de um capítulo é que pude compreender a
narrativa da história, conseguindo posicionar os acontecimentos
dentro da linha do tempo. Assim, para uma história cuja linha do
tempo pode ser dividida em até três momentos diferentes, a autora
falha em nos delimitar esses período, dificultando o entendimento
temporal da história.
A
autora também descreve muito superficialmente os espaços,
expressando somente palavras genéricas como “grande” e
“imponente”, deixando o resto a cargo de nossa imaginação. Ela
prefere dar uma maior atenção a diálogos desnecessários e longos,
que muitas vezes nada adicionam a história, somente resultando em
uma leitura mais cansativa.
Esses
pequenos erros, porém, em nada diminuem a experiência da leitura.
Apesar de ser escrito em terceira pessoa, consegue adentrar o
interior dos personagens, descrevendo suas sensações e sentimentos,
a tal ponto que não só nos identificamos como também nos
emocionamos.
E,
apesar de a história estar rodeada de clichês (que, não me
entendam mal, em nada diminui o livro), a autora ainda consegue
surpreender em certos momentos. Quando pensamos que sabemos por onde
a história irá seguir, ela dá uma volta e nos surpreende.
Surpresas essas que não sooam superficiais e se harmonizam
perfeitamente com a narrativa.
E,
é claro, que não podemos deixar de comentar sobre as cartas de
amor. Lindas e profundas, te dão uma sensação de desalento e, como
Ellie, passamos a temer de que ninguém nos ame tanto assim. Você
acaba o livro com uma enorme vontade de se apaixonar. E de escrever
cartas.
P.S.:
Caso você se interesse, fizemos tanto a resenha crítica de outro
livro da autora Jojo Moyes, A
Garota que Você Deixou para Trás. Vale a pena conferir!
-
Mariana Estrela.