segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Resenha: Eleanor & Park, de Rainbow Rowell



Um filme dos anos 80, em formato de livro. 



Eleanor & Park é o único livro da escritora Rainbow Rowell publicado no Brasil. A autora já escreveu mais outros dois livros: Attachments, em 2011, seu livro de estréia, e FanGirl, em 2013, mesmo ano em que a autora escreveu Eleanor & Park. Apenas recentemente Eleanor & Park foi traduzido para o português, e não há sequer previsão para a tradução dos outros. Mas a boa notícia é: há a possibilidade de o livro virar filme!

Eleanor & Park é um romance, ambientado nos anos 80, que fala sobre os dois adolescentes que dão nome ao livro. Ambos têm problemas para se ajustarem à escola que estudam, por serem diferentes do restante dos alunos, mas logo começam uma amizade baseada em gostos em comum por quadrinhos e música. A amizade evolui para um romance, que logo encontra obstáculos: a família de ambos. Aliás, principalmente a família de Eleanor. Como é possível notar, a premissa do livro não é inovadora, ao contrário, beira ao clichê. 

Entretanto, se diferencia de outros livros justamente por sua base: o romance. O Eleanor & Park foca-se prioritariamente no romance entre os protagonistas, dando atenção para os seus personages principais de tal maneira que, não somente passamos a conhecê-los intimamente, como até mesmo podemos prever suas reações. As características de ambos são amplamente descritas e enfazatidos durante todo o livro de tal maneira que facilmente temos uma imagem mental de sua aparência física. Vai além, conseguimos nos sentir familiarizados com os dois, eles passam a ser pessoais quase reais, cometem seus erros, tem suas qualidades e defeitos, não soam superficiais em nenhum momento. 

Diferencia-se, também, Eleanor & Park de outros livros do mesmo gênero por como o relacionamento dos dois personagens principais começa. Enquanto alguns livros e filmes consegue fazer com que o primeiro contato entre um casal soe superficial e constrangedor, a autora consegue trazer um ar de naturalidade ao primeiro encontro deles. O relacionamento dos dois começa pela amizade, pelos gostos em comum, com conversas simples sobre quadrinhos, música, livros, filmes. Conversas que podem acontecer com qualquer pessoa, a qualquer momento, conversas muito próximas às reais. Há também, obviamente, a atração física, mas o romance deles não se limita a isso. 

A música também tem um grande papel no livro: os dois personagens principais comentam sobre músicas e algumas até embalam alguns momentos entre eles, funcionando quase como uma trilha sonora para a história. Bandas como The Smiths, The Cure, U2, The Beatles, e muitas outras são amplamente citadas durante o livro. Quem não conhece alguma delas, vale a pena conferir, principalmente porque a atmosfera entre as músicas citadas e a história contada é a mesma.  

É interessante notar como ambos personagens evoluem durante a história. Entedemos porque Eleanor fala que a foto de Park, tirada em outubro de 1985, já não mais condiz com a realidade, já que o garoto parecia estar muito mais velho apesar do pouco tempo transcorrido. Os dois personagens evoluem juntos, cada um motivando a transformação no outro. Assim, ao final do livro, vemos Park agir de uma maneira mais adulta e já não nos surpreendemos. 

O livro, entretanto, não é perfeito. Comete uma falha ao não aprofundar a história da família de Eleanor, sempre deixando a mãe, o padastro e os irmãos da garota como plano de fundo para o romance com Park. Acabamos o livro com a sensação de que não muito foi explicado em relação à família da jovem, apesar de durante todo o livro é a familia dela que impede o relacionamento com o garoto. Queria saber sobre o porquê de a mãe e o pai dela terem se separado, queria saber um pouco mais da manipulação do padrastro de Eleanor sobre a mãe e as crianças. Fica-se subentendido que Eleanor deve temer Richie, seu padastro, mas nunca fica evidente o porquê disso. Por exemplo, em certo momento da história – calma, não é Spoiler! – Eleanor escuta vozes de pessoas dentro de sua casa e um som de tiro, ela então corre para chamar a polícia. Pensamos que posteriormente a presença de tais pessoas na casa da menina, ou até mesmo os tiros, seria explicado, mas aparentemente a autora só cita para exemplificar, mais uma vez, o medo que Eleanor tem de seu padastro. 

O livro foi escrito em terceira pessoa, entretanto, a autora é inteligente ao variar os pontos de vista, fazendo com que seja possível adentrar a mente dos personagens e saber exatamente o que eles pensam naquele momento, parecendo ter sido escrito em primeira pessoa. 

A segunda falha do livro aparece, entretanto, justamente na escrita, pois ela se torna muito bobinha. A autora se utiliza de frases muito curtas, com excesso, fazendo com que a leitura seja de certa forma até imatura. Por exemplo, em certo trecho do livro:

Eleanor esperava que Park estivesse esperando-a no ponto de ônibus, mas não reclamaria se ele não estivesse.
Ele não estava.

Com a repetição exagerada de pronomes como “ele” e “ela” e a recorrência em utilizar as mesmas palavras para descrever sentimentos, a escrita da autora pode ser qualificada como fraca. Aqueles que procuram uma escrita mais aprofundada, com maiores descrições e realmete adentrar no ambiente do livro, não irão gostar da forma de escrever da autora. Para completar, a autora ainda tenta aproximar a escrita da fala, utilizando certas gírias que pela repetição constante e pelo seu uso errado – já que muitas vezes ela utiliza as gírias em momentos errados – provoca um efeito de superficiliade à fala dos personagens. 

Para finalizar, o livro é bom, com uma atmosfera meio anos 80: comédia romântica, em um ambiente escolar, menina estranha, menino estranho, garotos populares praticando bullying, mix de músicas gravas em fitas cassetes, carros antigos, etc. Mas não é indicado para pessoas que procuram romances com mais profundidade ou drama. Quem gosta de livros fáceis e rápidos de ler e até mesmo romances bobinhos, irá amar Eleanor & Park.

P.s.:  inspirada pelas músicas presentes no livro, resolvi criar uma pequena “playlist” de alguns cantores e bandas citados durante a história. As cinco primeiras músicas são citadas no livro, as restantes são apenas músicas que achei a cara da história. Espero que gostem: Playlist


    - Mariana Estrela.

3 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Esse livro... Comprei esse fim de semana pelo site da amazon. Tô ansiosa para lê-lo, embora não tenha criado expectativas, pois não é exatamente meu gênero favorito. Mas espero que seja uma leitura agradável *-*
    Mar,
    http://sonambulismoliterario.blogspot.com/

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    1. Marmel, leia de uma maneira descompromissada, é uma leitura bem fácil e leve! Espero que goste! :)

      - Mariana E.

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